” A culpa deve ser dos meus comentários picantes e insistentes aqui no blog ou das tantas aulas teóricas que juntas fizemos na faculdade ou das conversas pouco científicas e altamente filosóficas que tivemos em mesas de bares por Floripa… Sabe-se lá o motivo, mas a Babi me convidou para postar algo aqui no seu espaço. Disse que queria algo expressivo e culto, mas me fez um apelo: “Não uma bíblia, Paulaaa!” Ok, amiga. Juro tentar!
No alto de minha sabedoria dos vintepoucosanos, carrego bons conselhos que recebi da minha mamis. Assim que a Babi me fez o convite pra escrever no blog, lembrei de um deles: “Quando se recebe um convite deve-se vestir-se o mais acordado possível com a ocasião, porque estar bem vestido demonstra um agradecimento ao convite feito”. Já que, neste momento, não estou sendo vista (além do mais, o meu look pijaminha de algodão e cabelo despojadamente preso não é exatamente apresentável) espero saber dispor das melhores e mais adequadas… Palavras.
Li um livro deliciosamente divertido no ano passado: “Louca por homem”. Daquele tipo de leitura que combina com pés descalços e mente leve. Cláudia Tajes, a autora, com sua escrita provocativa me apresentou Graça, a personagem principal, descrita na sinopse do livro como uma “mitômana compulsiva, às raias do absurdo” (uiii! mitôma oq??). O fato é que o mais marcante na personalidade da Graça é sua capacidade de se adaptar a personalidade dos caras por quem ela se apaixona (se isso é, simplesmente, falta de personalidade própria, aí eu já deixo pros estudiosos da psique humana). Esse incansável “adaptar-se” leva Graça as mais variadas aventuras. Enquanto eu, leitora de mente leve e pés descalços, me divertia com as suas mil facetas, surgiu um questionamento: “Como seria o guarda-roupa dessa personagem?”
Seres sociais que somos, convivemos com o mundo através do nosso corpo; corpo este revestido por tecidos, formas e cores escolhidas não casualmente, mas de forma a articular interesses tão variados que não me atreveria a citar metade deles. Além do mais, em época de semana de moda e desfiles de alta-costura, novos e bons argumentos (vulgo trend da estação) são apresentados para que o consumir se faça e preserve pulsante o tal sistema da moda.
Vale destacar que a roupa não fala somente através do corpo. Peças de acervos museológicos são bons exemplos. Carregam valiosas informações da cultura de uma sociedade, mesmo que dos corpos tenham restado apenas marcas e manchas.
Enquanto a lista de desejos dos fashionistas modificam-se junto com as estações do ano, o corpo continua intacto (ops… dizer isso em plena era da cirurgia plástica rende muita discussão, mas vou confiar na capacidade crítica dos leitores). Essa realidade nos levaria a conclusão que a roupa serve de suporte para o discurso próprio de cada um? Ou seria o contrário, o corpo que recebe os signos da roupa?
O vestido vermelho e decotado nem sempre veste uma mulher sexy e provocante ou o rendado rosa claro uma moçinha romântica e ingênua. Tampouco, saberia dizer como, exatamente, é o guarda-roupa adequado para representar uma mulher como Graça e suas mil facetas. Por esses e outros motivos tantos, não acredito em uma interpretação de moda como linguagem se desarticulada de uma contextualização sócio-cultural que envolva o usuário, o observador e a roupa.
Antes de terminar, vocês estão lembrados do papo inicial do uso da roupa adequada como forma de agradecer um convite?! Pois é, mamis nem sabia, mas já estávamos discutindo teorias como semiótica e cultura material bem antes de eu pensar “o que vou ser quando crescer” (não que já tenha a resposta). Ahhh ela também me ensinou: “a maior prova que podemos ter da nossa presença ter sido querida é receber um novo convite”! “
Paula Consoni – Estilista e convidada exclusiva para dissertar no Fashion!
AMEI amiga, obrigada por ter aceito meu convite e é claro, VOLTE SEMPRE!!!!!